novembro 12, 2007

Mário Quintana


Mário Quintana foi um dos maiores poetas brasileiros. Nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1906 e morreu em Porto Alegre, em 1994. Sua poesia foi caracterizada especialmente pela simplicidade, utilização de uma linguagem coloquial e cotidiana, além de exprimir um sutil humor. Neste texto, o poeta expressou o que achava do sermão dos padres durante o casamento.

O Sermão do Padre Durante o Casamento

Em maio (...), escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:

"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"

Acho simplista e pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

"Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?"

"Promete saber ser amigo(a) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena um e outro, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?"

"Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?"

"Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e, portanto, a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?"

"Promete se deixar conhecer?"

"Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?"

"Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que você os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?"

"Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?"

"Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?"

"Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?"

"Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher."

"Declaro-os maduros!"

Mário Quintana, se não foi um budista praticante em vida, soube cultivar com sabedoria a filosofia dentro de si. Soube enxergar a si mesmo antes de enxergar e perceber o próximo. É e sempre será um grande exemplo para todos nós.

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